Cooperar é operar em conjunto; assim
como colaborar é trabalhar em conjunto. O morfema co- é
um prefixo latino que consigna noção análoga à da proposição com,
de que deriva. Palavras que empregam esse prefixo agregam o sentido de fazer
junto; buscar ou ter o apoio de outrem para uma empreitada. Um
bom líder não despreza essa noção; mas a tem bem acentuada em seu coração, e
isso é uma característica do próprio Deus, que, ao criar o Homem, não tomou
para si mesmo a tarefa que realizou; antes, fez uma reunião celestial quando
disse: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança;...” (Gênesis, 1.26 – grifos
meus). O ser humano foi criado em cooperação; portanto, traz em si a
necessidade do outro, já experimentada no Éden.
O Senhor deixou claro que o homem não poderia estar
só (Gênesis 2.18). Deus poderia ter criado a mulher em tempo concomitante à
criação do homem. Se assim não fez, não foi por descuido, pressa ou
esquecimento. Não nos é difícil compreender que o Senhor permitiu a Adão passar
por um sentimento de necessidade de sua companheira. Caso homem e mulher se
encontrassem num mesmo instante, nenhum de nós teria a noção dessa necessidade
do outro. Deus sabe como fez a sua criação!
Neemias, movido pela necessidade de reconstruir o
muro de Jerusalém e de reorganizar a cidade, chamou companheiros que o
ajudassem (Neemias, 2.17). Seu papel era de restaurador de um lugar totalmente
destruído: um engenheiro civil e administrador. Sua posição de liderança não
deixou de precisar do trabalho de Esdras, o escriba, para trazer o povo à obediência
a Deus. Cada um tinha uma função, mas o objetivo era um só. Ninguém faz uma
obra sozinho. Ninguém que toma decisão aleatória, ninguém que se julga acima
dos seus companheiros é verdadeiro líder; porém, é um autocrata.
O sentimento de autocracia é diabólico. Satanás age
sozinho, interessa-lhe a sua vontade exclusiva. Para ele, valem as suas
próprias decisões. Os anjos maus que o acompanharam na queda caíram na sua
astúcia e tornaram-se seus escravos, jamais seus colaboradores. Se na criação
Deus disse “Façamos o homem”; na tentação de Jesus, o diabo arrogou-se o
direito de falar por si mesmo “Tudo isto te darei” (Mateus, 4.9).
Nestes tempos, veem-se aumentar os homens amantes
de suas personalidades, autossuficientes, impostores (no sentido de obrigar a
seu interesse). Esses tais, à moda de Satanás, não geram colaboradores, mas
procuram os que têm espírito subserviente às suas vontades e decisões.
Arvoram-se como se líderes fossem, quando, verdadeiramente, são aproveitadores
do esforço alheio.
Muitas são as igrejas, os ministérios,
administrados por falsos líderes. Aqui não se trata de falsidade doutrinária,
propriamente dita; mas de lideranças que ignoram a cooperação de que podem
dispor. Trata-se de pastores que formam uma trupe para os
acompanhar lá e cá, apenas para lhes aplaudir as decisões tomadas à revelia de
qualquer consulta ou consideração. Não são líderes; são déspotas que amam o
aplauso inconsequente de seus bajuladores.
Evidentemente, Deus não está satisfeito com tamanha
ignorância dos seus princípios; o diabo, porém, vê seu péssimo exemplo ser
repetido por tantos homens que dizem servir à obra de Deus. Na igreja
primitiva, o senso de cooperação era extremamente forte, pois ela vivia sob a
direção do próprio Espírito Santo, sobre o qual se pode dizer “o cooperador por
excelência”, o Outro Consolador que Jesus prometeu (João, 14.16-17, 26).
A Igreja de Cristo não pode ser conduzida como
fazem os governantes do mundo, mormente do Brasil. Eles ignoram as premissas
divinas; são déspotas, arrogantes, cheios de si. São amantes do “eu”,
causadores de tantos males a uma sociedade dobrada aos seus interesses mais
escusos.
Jesus não fez a sua obra de pregar o evangelho
sozinho; mas gerou discípulos, ensinou-os e os enviou ao mundo, prometendo
estar - cooperar - com eles (e conosco) até o fim dos séculos (Mateus,
28.19-20). A igreja é corpo, logo, formada de membros. Jesus ensinou que
devemos ser “um”, assim como Ele é um com o Pai (João 17.22-23).
Precisamos despertar-nos para a conscientização do
sentimento que Deus colocou na alma humana, ainda que o inimigo do bem tenha
implantado a soberba, a autocracia, a ingratidão entre os homens; mas esse
sintoma só deveria atingir aos que agem na impiedade do mundo.
“E eles, tendo partido, pregaram por todas as
partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a
palavra com os sinais que se seguiram. Amém!” (Marcos, 16.20 – grifos meus).
“... E, todos os dias acrescentava o
Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (Atos, 2.47 – grifo meu).
Paulo também faz, muitas vezes, alusão ao espírito
de cooperação no seio da igreja; entretanto, há quem torça a realidade da
convocação do apóstolo, a fim de submeter os seus irmãos a um
mesmo ponto de vista: o seu. Mas não é disso que Paulo trata; tanto que ele
solicita que não haja discordâncias sobre os assuntos. Ora, para que não haja
discordância explícita ou velada, é necessário que se chegue ao consenso; nunca
se deve apoiar, simplesmente, por obediência ao que é imposto. Diz ele à igreja
em Corinto:
“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor
Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós
dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo
parecer” (1Coríntios, 1.10 – grifo meu).
“Um mesmo parecer” esclarece que deve haver um
consenso entre pareceres. Somente as pessoas dotadas de sabedoria espiritual e
de bom senso intelectual podem reunir os pareceres em um só parecer. Quando os
apóstolos se viram atarefados com tanto trabalho na igreja, eles não resolveram
quais homens seriam feitos diáconos; pediram que os irmãos escolhessem seus
candidatos (Atos, 6.3). Isso é prezar a cooperação, a colaboração!
Fonte: Portal UBE – União de Blogueiros
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